Postagens Recentes

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Ficar por Dentro para Ficar de Fora


Violência. Este bem que podia ser nome de flor, mas é nome de espinho. Violência é uma besta-fera correndo solta e devorando nossas entranhas em silêncio. Quando nos damos conta, Violência já passou e nos devorou. Estamos todos presos dentro da barriga dela, como Jonas na barriga da baleia.



Violência faz visitas surpresas como a que fez a Frei João. Ele havia ido, mais uma vez, à pegação na praia noturna. Sempre ia. Sempre se dava bem. Mas, desta vez, ela estava à espreita. Os olhos incandescentes da Violência observavam os passos de Frei João na escuridão e ela chamou a Morte para, por perversidade, se apossarem da vida de mais um homossexual.
Frei João foi encontrado morto na frente de seu apartamento. Tiros, facadas, espancamento. Sua casa de paredes brancas estava revirada, suja de sangue, roubada, remexida, invadida.



Alpha era aquele tipo de bicha folclórica, ultra-pintosa e bem humorada a ponto de conquistar a simpatia de todos que freqüentavam o bar onde trabalhava como cozinheiro. Mas Alpha era bicha. Bichona. Uma maricona de uns 55 anos que , um dia, despertou a ira de homofóbicos, incitados pela Violência. Sim, ela e a Morte estavam lá, outra vez. Esmagaram a cabeça de Alpha com um paralelepípedo. Observaram seu corpo estrebuchar até apagar.



Violência e Morte também tentaram se apossar da vida de Mano, que levou uma facada no cu e, ainda assim, sobreviveu. O marginal transou com Mano e, depois, queria grana. Como não conseguiu, deu-lhe uma facada que perfurou o reto e, não satisfeito, girou a faca lá dentro por diversas vezes, dilacerando tudo.
A mesma sorte de sobreviver não teve Flor Spencer, um gay iniciante nas artes do travestismo, que freqüentava pontos de prostituição e morreu por uma facada na parte de trás da coxa. A arma perfurou uma veia e seu sangue jorrou até a morte. O taxista que presenciou o fato se recusou a ajudar Flor alegando que iria “sujar seu carro”.



Dias atrás foi Everaldo quem recebeu a visita da Morte e Violência. O michê com quem transava há meses se revoltou e o espancou. Achou pouco e o esfaqueou na altura da virilha. Achou pouco e o estrangulou até a morte....a Morte. Sim, ela estava lá, de mãos dadas com Violência, que suspiraram aliviadas ao ver a missão cumprida contra mais um homossexual.



Quando Violência sai sozinha, apronta outras atrocidades contra gays. É um assaltozinho aqui, um boa noite Cinderela ali...Estamos nos expondo ao perigo, mesmo sabendo que crimes contra gays quase nunca são resolvidos porque criou-se a cultura de que nós “procuramos” . Esta mesma desculpa era dada quando uma mulher era vítima de estupro.



Quem procura a Violência e a Morte ? – Até quando vão permanecer insolúveis os crimes contra gays ? - Até quando viveremos e morreremos sendo números em estatísticas ?



Enquanto isso, é rezar para não receber esta visita desagradável e não pensar que Violência é flor. Não é. Violência é dor. Qualquer dor....qualquer morte.

Um comentário:

Luiz Pep disse...

Condordo plenamente que a coisa tá muito feia, :( mas tenho amigos homossexuais que se colocam em risco frequentemente, sei que isso não justifica a violência aplicada e que nada impede a minha pessoa de sofre algum tipo de violência quando eu estiver indo ao supermercado, porém não posso ignorar o comportamento de certos gays.