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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

As camadas de tragédias brasileiras se sobrepõem num ritmo tão alucinante que é difícil ter na memória as tantas vezes em que choramos nossos mortos.
Quem lembra do prédio que desabou no centro de São Paulo ? - Pois é...quase ninguém lembra e este esquecimento proposital é onde soterramos as tragédias nacionais, onde sepultamos nossa vergonha. Na escuridão deste túmulo brasilis, a vida segue até a próxima vez quando pararemos atônitos diante da TV para lamentarmos a morte de outros tantos que serão logo esquecidos.
Após cada tragédia, uma onda de bom mocismo varre o país. O incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria/RS, trouxe uma enxurrada de fiscalizações às casas noturnas - de repente, saída de emergência virou modinha, como coisa que não tivesse importância antes.
Este ano, Brumadinho nos fez lembrar de Mariana (olha só ! Fomos forçados a lembrar de uma tragédia que anos depois ainda não teve nenhuma solução...estava confortavelmente esquecida nos corações brasileiros não-atingidos, mas, de repente, voltou à tona com a bandeira da vergonha em punho).
Sim ! Vergonha ! Ficamos indignados, vamos às redes sociais fazer textão e compartilhar memes até que uma nova camada seja adicionada às tragédias brasileiras. E só.
É assim que construímos nossas próprias barragens de rejeito social, quando já não nos comove a chacina na periferia ou os incontáveis casos de homofobia. Por que ocuparíamos nosso tempo com essas tragédias 'menores' se daqui há pouco veremos adolescentes carbonizados no Flamengo ?
Por que dar ouvidos ao secular choro de sede do nordestino sertanejo se é mais fácil menosprezá-los do alto de nossos apartamentos no Leblon atingidos por uma tormenta tropical televisionada em tempo real ?
Museu Nacional, microcefalia, o leite com soda cáustica, bancos explodidos, Isabela Nardoni, gringos assaltados, amazônia devastada...corrupção...cachorrinho espancado no Carrefour...
Logo é carnaval e sepultaremos nossas tragédias outra vez, até a próxima.