Postagens Recentes

terça-feira, 24 de julho de 2007

O que é que eu vou fazer com essa tal prosperidade ?


Para o governo, não existia crise na aviação brasileira. Pelo contrário, a superlotação dos aeroportos chegou a ser atribuída à prosperidade econômica.



Pois bem, veio a irritação de passageiros, atrasos, vôos cancelados, panes nos radares e a crise culminou com o desastre do avião da TAM em Congonhas. Para resolver o problemão que tem nas mãos, o governo decidiu que é hora de modernizar aeroportos e a conta quem pagará somos nós porque as companhias aéreas não podem ter prejuízo, muito menos o governo.


A prosperidade enaltecida como ícone de crescimento do poder aquisitivo do brasileiro, que passou a voar mais, é a mesma prosperidade que agora vem assaltar nossos bolsos para corrigir uma falha governamental.





O preço das passagens aéreas vai subir drasticamente para barrar o enorme fluxo de passageiros que hoje voam nos céus brasileiros. Não, o governo não quer mais a prosperidade. O governo não quer pobre tendo acesso a avião e lotando o saguão dos aeroportos. Voar é para quem pode. Isso sim, é sinal de prosperidade. E, mais uma vez, o povo leva a culpa.





Brasileiro é assim mesmo: aceita sem reclamar. Ninguém se opõe, ninguém briga. Deve ser a tal prosperidade !

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Relaxando e Gozando...ou, ao menos, tentando


O país está em festa:


  1. Temos uma das maravilhas do mundo moderno.

  2. Temos os Jogos Pan Americanos.

  3. E temos também mais um desastre aéreo.

Somos medalha de ouro em mobilização nacional quando garantimos a eleição da sisuda estátua do Cristo Redentor como uma maravilha. Maravilhosa, ela não é. Maravilhosa pode ser a vista que se tem do alto do morro do Corcovado. Maravilhosa pode ser a floresta tropical que se aproxima do visitante no caminho ao Cristo. A estátua, em si, não tem nada de maravilhosa e isso pouco importa aos brasileiros: a medalha de ouro é nossa !



Como reflexo da grandiosidade econômica tupiniquim, atletas brilham nos Jogos Pan Americanos Rio 2007. Deve ser aquela prosperidade alardeada pelo governo federal que beneficia atletas, mas que continua inatingível para os simples mortais, os que pagam a conta da construção de uma vila olímpica super-faturada, os que bancam a roubalheira de empreiteiras e sustentam os rios de desvio de verbas que alimentam os bolsos dos corruptos. Porém, temos que admitir, esta é outra medalha de ouro para o Brasil. Uma grande medalha de ouro fincada na nossa testa, onde os imbecis ostentam suas medalhas.



Enquanto lutamos por medalhas nos esportes, mais de 200 pessoas morrem em outro acidente aéreo. Parabéns, Brasil. Somos medalha de ouro na modalidade "Terror a Bordo"...e ainda chama de "acidente" o que poderia ter sido evitado !


Espetacularmente, nossas aeronaves se deparam com pousos forçados, pistas antigas, aquaplanagem, greve dos controladores de voo, ausência de radar......sem falar na agonia de passageiros que começam a enfrentar o "Caos Aéreo" ainda no chão, no saguão dos aeroportos, em esperas intermináveis, overbooking, desinformação....


Mas, para se ganhar medalha de ouro é preciso muito mais que transtornar a vida de milhões de pessoas que pagam pelo transporte aéreo: é preciso mata-los.


Somos medalha de ouro. Parabéns, Brasil. O Cristo é uma maravilha, a vila do Pan é uma maravilha e as 200 vozes que se calaram em Congonhas expôs o show de incompetência, burocracia e descaso que impera no país.


Relaxa e goza ! O importante é a medalha na testa !

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Um resgate rápido III


Um grupo de São Francisco (EUA), nos anos 80, fez a música gay crescer e aparecer
Num cenário riquíssimo de talentos inesquecíveis, o DJ Bill Motley viu uma oportunidade de formar um grupo musical para agitar as festas da clientela gay das boates de São Francisco. Em sua busca por grandes performers, o DJ abriu audição para centenas de vocalistas, homens e mulheres, e a cantora de barzinho Cynthia Manley conquistou o posto de líder.


A idéia original era gravar um compacto com 12 minutos e duas faixas de música para ferver nas pistas de dança da cidade. O DJ Motley, grande fã da cantora Diana Ross, escreveu as duas canções do compacto: um disco-drama e um medley de duas canções de Ashford & Simpson. A história da música gay norte-americana estava prestes a ser escrita.

Quando "Remember Me/ Ain´t No Mountain High Enough" começaram a ser executadas nas rádios, a América acreditava que a "morte da discomusic" já havia acontecido no país. Entretanto, os frequentadores das discotecas, especialmente os gays, não paravam de dançar. Era esta a energia da música que o DJ Motley queria resgatar.
A voz poderosa de Cynthia impulsionou o sucesso das músicas do compacto para além dos clubes gays. Estava formado o grupo Boys Town Gang, um dos precursores de toda a dance music do planeta.

Boys Town Gang era composto por:
Cynthia Manley, Jackson Moore, Robin Charin, Don Wood, Tom Morley and Keith Stewart (Back-Vocals antes do lançamento do disco "Disc Charge"). A formação mudou após o lançamento do primeiro LP, mas Cynthia continuou firme, forte e pintosa no comando do grupo.
E foi com esta capa muuuuuiiiiiiiiitttttttttoooooooooo homoerótica que o grupo se lançou para o mundo. Ao Boys Town Gang e ao DJ Bill Motley, nossos sinceros agradecimentos.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

As inquietações de Bruna


(foto: Vlamir Marx)

Bruna, paraibana, 20 e tantos anos, travesti há 5,cabeleireira profissional. Batemos um papo informal e sua personalidade se mostrou dúbia em alguns momentos, marcante em outros, mas infinitamente bem resolvida sempre. Dúvidas e sonhos permeiam o universo particular em que ela vive, assim como permeiam cada um de nós.

Bruna acredita em Jesus Cristo, mas carrega em sua enorme bolsa (tecido de oncinha, lógico!) um livro sobre candomblé. Ela não se prostitui, mas não deixa de aceitar mimos de eventuais transas que encontra nas ruas. Se considera sexualmente passiva, entretanto, assume que muitos parceiros preferem que ela seja ativa no sexo. "Se a natureza me deu um pinto, é por ele que eu vou gozar." - defende-se.

Bruna fala pausadamente e seus olhos alertas estão sempre analisando reações alheias. A transformação corporal se iniciou a pedido de um ex-namorado. "Pus aplique no cabelo, tomei hormônios e em uma semana já estava me vestindo como menina. Fui a bicha mais rápida a virar travesti no mundo" - brinca.

Bruna não sofreu preconceito por parte da família ao chegar em casa de cabelão, peito e calcinha. Ela diz não ter sofrido nenhum tipo de discriminação por parte da sociedade, mas sabe que seu caso é uma exceção. Hoje, já toda transformada, Bruna se sente plena e feliz com seu corpo, ao contrário da amargura que carregava nos tempos em que era "apenas Beto, uma bichinha."

Bruna tem os mesmos sonhos da maioria das travestis brasileiras: ir para a Europa onde, acredita, a aceitação da homossexualidade é maior (apesar dela não admitir sofrer preconceitos aqui). Na Europa, ela sonha que encontrará um homem disposto a assumi-la como legítima esposa, com quem viverá feliz para sempre. Por enquanto, a distãncia entre o sonho e a realidade é bem cruel: Bruna mantém um relacionamento com um cara casado que trabalha como "massagista" numa sauna gay e se vira como pode nas horas vagas.

O mundo de Bruna é dúbio, duplo. Olhando de perto, ainda há um pouco de Beto dentro dela. Seus sonhos de felicidade eterna são os mesmos de todos nós. A inquietação do seu olhar é a tradução de uma alma que busca e há de encontrar.
Bruna é assim: uma travesti sem sobrenome, o que, por si só, já demonstra uma diferença das demais. Bruna quer ser feliz. Bruna não quer ser mulher, quer ser feminina sem abrrir mão do pinto que tem.

Bruna é arretada !