Desafiando aquele preconceito ocidental de que as mulheres muçulmanas são submissas e inexpressivas, surgiu no Egito uma orquestra sinfônica composta de cegas. Isso mesmo. Mulheres cegas executam com primor as grandes obras da música clássica mundial e da música árabe, com todos os micro-tons e variações ímpares que fazem da música oriental uma das mais ricas do planeta.
Já em Angola, meninos são expulsos de casa sob acusação de feitiçaria. Um vizinho ou parente pode denunciar uma criança (geralmente meninos) por práticas de bruxaria dizendo te-lo visto voar de noite, o que nos remete às Bruxas de Salem que mentiam acusando pessoas de bruxaria e, assim, levaram milhares de inocentes à forca ou fogueira nos EUA colônia, durante a Santa Inquisição.
Na Angola tribal essas crendices medievais sobrevivem municiadas pela ignorância, maldade e incapacidade do Estado e famílias de cuidarem de tantos filhos. Espancam o "feiticeiro" e o expulsam para as ruas. Muitos, ainda crianças, se vêem sozinhos aos 9 anos de idade.
Angola confirma o preconceito ocidental de que os africanos pouco evoluíram nos últimos séculos e continuam presos à tradições antiquadas e cruéis.
Evoluir ou regredir não é escolha de uma nação, mas da cultura de cada lugar. É a cultura, o conjunto de tradições de um povo, quem dita o rumo a ser seguido. Exemplo disso é a China moderna que caminha para ser a nação mais rica do mundo e ainda assim se vê apegada a tradições milenares como arrastar mulheres pelos cabelos, as vezes em público, porque esta é a cultura chinesa onde o homem é o centro e senhor de tudo.
No Afeganistão, as burcas que cobrem as mulheres dos pés à cabeça são uma peça da cultura local, usada desde muito antes do regime Talibã torna-las obrigatórias. Hoje, sob ocupação militar americana, mulheres da capital Cabul não usam mais a burca e até exibem unhas pintadas e maquiagem, uma afronta ao Islã radicalíssimo do país.
Contudo, nas vilas do interior árido, as mulheres não deixaram de usar as burcas mesmo depois da queda do Talibã porque a burca sempre foi parte da cultura local. Elas sentem-se felizes assim.
O Afeganistão confirma e desmente o preconceito ocidental em relação ao oriente: beber coca-cola quente e usar calças jeans ainda é sinônimo de modernidade naquele país. Por outro lado, há um curso de teatro na universidade de Cabul onde estudantes de ambos os sexos encenam juntos, algo impensável em outros países muçulmanos.
Já Dubai, nos Emirados Árabes é, à primeira vista, o mais moderno e aberto país oriental. Seus hotéis e ilhas artificiais mostram uma riqueza pouco vista no ocidente. Por outro lado, as barbaridades estão lá, ocultadas pelo governo: três homens estupraram um tursita europeu de 15 anos que se aventurou além dos limites elegantes e seguros. Foi contaminado pela AIDS e agora luta para que o riquíssimo Dubai o recompense de alguma forma, mas o governo local morre de vergonha de admitir a existência de homossexualismo e AIDS.
O ocidente, as vezes, também alimenta seus próprios preconceitos. Desafiando a ordem mundial e a inteligência de milhões de pessoas, líderes populistas e neo-comunistas são eleitos para se transformarem em ditadores cruéis. A Venezuela atravessa um conturbado período político com a implantação do regime bolivariano de Hugo Chavez, que revive conceitos que não funcionaram em lugar nenhum onde foram tentados. A Rússia, berço da revolução comunista, há muito enxergou que uma sociedade igualitária foge à essência humana, é utopia. Até a China teve que se adequar para não sucumbir.
O mundo é uma grande tribo. Essas histórias aqui contadas são o reflexo da humanidade: as vezes, inquieta e buscando mudanças. Outras vezes, acomodada e temerosa.
Ainda que haja tanto bondade quanto crueldade, essa é a nossa raça. Sou eu e é você. E são as mulheres cegas do Egito que enxergaram mais longe do que nós.
Um comentário:
Muito bom o texto, bem, acho que já falei isso por aqui, mas vale a pena repetir toda vez que entro neste ótimo blog e vejo texto de ótima qualidade. Simples, curto, direto, mas diz tudo!!!
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