Ocorre que a Polícia Civil virtualizou o processo de se fazer um B.O. (Boletim de Ocorrência). Eles insistem que o povo acesse a internet para se ter o direito garantido por lei de se registrar um sinistro.
Num país como o Brasil, onde a inclusão digital não passa de propaganda do governo, acho ridículo que alguns serviços públicos só sejam disponibilizados no "virtual". Tem muita gente sem acesso à internet. Tem muita gente sem condições de pagar para acessá-la e tem muita, muita, muita gente que nem faz ideia do que é internet.
Por trás disso está uma tentativa escrota de dificultar as coisas.
Na verdade, a violência na Paraíba (a capital João Pessoa é a segunda cidade mais violenta do país na relação de assassinatos por cada 100 habitantes) estava emperrando o crescimento do estado. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) caiu drasticamente e o governo entendeu que se a violência diminuísse nas estatísticas oficiais, então, aos olhos do governo federal e nas campanhas políticas, isso não poderia ser usado contra a Paraíba.
É tudo propaganda. Dificulta-se o registro de B.Os., caem os índices de violência e o governo estadual pode dizer que a segurança pública é um sucesso. Além disso, a informatização do serviço soa como prosperidade, modernização.
Mortes, estupros, roubos, sequestros, brigas, acidentes de trânsito, tiroteio...tudo piorou em João Pessoa. A violência aqui está atingindo níveis insuportáveis, mas estatisticamente, a Paraíba é sinônimo de paraíso.
Ok, virtualmente, pode até ser mesmo. E, como sabemos, o Paraíso não é para todos, assim como o acesso a internet. Esvaziaram as delegacias, esconderam a violência num mundo de faz-de-contas e jogaram o povo num purgatório diário onde sair de casa para ir na esquina pode significar ser assaltado.
Só falta criarem presídios virtuais, polícia virtual...
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