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segunda-feira, 2 de julho de 2007

As inquietações de Bruna


(foto: Vlamir Marx)

Bruna, paraibana, 20 e tantos anos, travesti há 5,cabeleireira profissional. Batemos um papo informal e sua personalidade se mostrou dúbia em alguns momentos, marcante em outros, mas infinitamente bem resolvida sempre. Dúvidas e sonhos permeiam o universo particular em que ela vive, assim como permeiam cada um de nós.

Bruna acredita em Jesus Cristo, mas carrega em sua enorme bolsa (tecido de oncinha, lógico!) um livro sobre candomblé. Ela não se prostitui, mas não deixa de aceitar mimos de eventuais transas que encontra nas ruas. Se considera sexualmente passiva, entretanto, assume que muitos parceiros preferem que ela seja ativa no sexo. "Se a natureza me deu um pinto, é por ele que eu vou gozar." - defende-se.

Bruna fala pausadamente e seus olhos alertas estão sempre analisando reações alheias. A transformação corporal se iniciou a pedido de um ex-namorado. "Pus aplique no cabelo, tomei hormônios e em uma semana já estava me vestindo como menina. Fui a bicha mais rápida a virar travesti no mundo" - brinca.

Bruna não sofreu preconceito por parte da família ao chegar em casa de cabelão, peito e calcinha. Ela diz não ter sofrido nenhum tipo de discriminação por parte da sociedade, mas sabe que seu caso é uma exceção. Hoje, já toda transformada, Bruna se sente plena e feliz com seu corpo, ao contrário da amargura que carregava nos tempos em que era "apenas Beto, uma bichinha."

Bruna tem os mesmos sonhos da maioria das travestis brasileiras: ir para a Europa onde, acredita, a aceitação da homossexualidade é maior (apesar dela não admitir sofrer preconceitos aqui). Na Europa, ela sonha que encontrará um homem disposto a assumi-la como legítima esposa, com quem viverá feliz para sempre. Por enquanto, a distãncia entre o sonho e a realidade é bem cruel: Bruna mantém um relacionamento com um cara casado que trabalha como "massagista" numa sauna gay e se vira como pode nas horas vagas.

O mundo de Bruna é dúbio, duplo. Olhando de perto, ainda há um pouco de Beto dentro dela. Seus sonhos de felicidade eterna são os mesmos de todos nós. A inquietação do seu olhar é a tradução de uma alma que busca e há de encontrar.
Bruna é assim: uma travesti sem sobrenome, o que, por si só, já demonstra uma diferença das demais. Bruna quer ser feliz. Bruna não quer ser mulher, quer ser feminina sem abrrir mão do pinto que tem.

Bruna é arretada !

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