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domingo, 21 de novembro de 2010

Poseidon x Yemanjá

Há uma forma de racismo nunca - ou pouco - abordada nos meios acadêmicos: o racismo panteônico.


Digo panteônico para englobar num único neologismo uma observação: a intolerância religiosa contra o panteão de deuses africanos. É uma intolerância ímpar porque se manifesta abertamente e dificilmente a veremos sendo exposta de forma tão clara contra outros deuses de outras mitologias.


Creio que há um padrão por trás do preconceito: uma tendência a satanizar os orixás como se fossem seres de um submundo religioso. O sacrifício de animais, as oferendas e a possessão do corpo por entidades espirituais são, por si só, vistos como obras diabólicas, manipulações satanistas.


Este preconceito não ocorre contra o panteão grego/romano ou religiões mais modernas como o cristianismo e o islã, apesar de a história contar que todos se valem dos mesmos artifícios: sacrifícios, possessões e oferendas.
Entre cristãos e muçulmanos há a crença em demônios, seres capazes de ocupar o corpo de um crente ou apenas influencia-los a cometer atos insanos. Os hindus e judeus têm registrado em seus Livros Sagrados diversas passagens onde devotos costumam ofertas animais aos seus deuses.
A própria Bíblia está repleta de contos onde Deus foi agradado com oferendas - vide Caim e Abel, Moisés... E pessoas orando em línguas ? - Por que é obra do Espírito Santo no cristanismo e obra de demônios no candomblé ?


Por que apenas os orixás africanos padecem desta "satanização" ?
Se os deuses do candomblé representam as forças da natureza - raios, sol, chuva, terra, rios, mares, lua - igualmente aos deuses gregos, celtas ou escandinavos, por que somente os cultuados na África são invariavelmente taxados de demônios ?


Se na Índia o deus-elefante e a deusa-rato são exemplos de sabedoria e se Amaterasu era a deusa dos céus e do sol e a mais poderosa deusa do panteão japonês, por que apenas os deuses ancestrais africanos sofrem preconceito ?


Não encontro outra resposta que não o racismo. 
Claro que esta conclusão carece de um aprofundamento acadêmico mais embasado, mas creio que é um caminho à explicação à não-aceitação do panteão afro.

Estudamos a mitologia grega e romana, o budismo, o cristianismo e não enxergamos neles os traços comuns que os unem ao candomblé e à umbanda.
Uma pena, pois é uma mitologia que importamos da África há muitos séculos e continuamos a relegando ao submundo, ao esconderijo do medo e da vergonha.


Continuamos mantendo o culto aos orixás na escuridão da senzala, ainda que eles sejam dignos de estar em qualquer museu ou livro de biblioteca, quer seja por seus ensinamentos, beleza ou pelo simples fato de serem os mesmos deuses de todos os cantos, apenas com encanto diferente.


Se observarmos tudo sem traves nos olhos veremos que Poseidon, deus grego dos mares, é bem parecido com Yemanjá, deusa africana do mesmo elemento.
E, assim como no panteão grego, há 16 orixás principais, cada um correspondente a um sentimento, elemento ou habilidade, o que só prova quão iguais somos.

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