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sábado, 11 de agosto de 2007

O Itinerário da Leveza pelo Ar


Ana Maria comprou um biquini de bolinha amarelinho, tão pequenininho, que podia esconder na palma da mão.




A ingenuidade da letra desta música (Itsy Bitsy Yellow Dot Bikini), dos anos 60, traduz um puritanismo incompatível com a época em que foi lançada. Nos anos 60, Brigitte Bardot já se expunha nua nas telas dos cinemas em "E Deus fez a mulher". O biquini já era peça corriqueira nas praias do mundo. Americanos explodiam bombas atômicas em atóis. A contra-cultura questionava conceitos e em Saint-Tropez era ensaiado o top less.




De repente, surge a pueril canção "Biquini Amarelinho" que contava a história de uma donzela cheia de pudores e constrangimento diante de uma peça de banho minúscula, a verdadeira negação de toda a ebulição cultural daquela época.



A estampa de bolinha nos remete a um sentimento de infantilidade, de brincadeira; já o fato narrado na música é totalmente sexual. Essa dualidade fez do biquini amarelinho um ícone da leveza intelectual, movimento não-organizado (quase involuntário) que perdura até os dias de hoje e tem nesta melodia/letra sua expressão máxima de descomprometimento cultural.




O biquini de bolinha amarelinho é pop, mas não da mesma linhagem da arte de Andy Wahrol. É mais suave, mais leve e, talvez por isso, sobrevive, como vírus espalhado no ar. Quando tudo está muito sério, basta apelar às bolinhas. Elas também são uma forma de contestação.



Assumindo-se esta "leveza intelectual", questiona-se: o biquini era amarelo com bolinhas pretas ou preto com bolas amarelinhas ?




Brigite Bardot saiu de moda e os americanos não explodem mais suas bombas atômicas. A contra-cultura cedeu lugar à industria e a era digital suplantou a era de aquário.




Era apenas um biquini amarelinho tão pequenininho...




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